Os biberões de plástico são leves e práticos — não é de admirar que representem mais de 80 por cento do mercado de biberões em todo o mundo.
De acordo com um estudo recente publicado na revista Nature Food, no entanto, estes podem expor os bebés a milhares ou mesmo milhões de partículas de microplástico por dia, o que é mais do que se pensava anteriormente.
O estudo estimou que a exposição média diária a microplásticos de um bebé alimentado com biberão era superior a 1,5 milhões de partículas por dia, ou seja, cerca de 2 600 vezes mais do que a de um adulto. Os bebés da América do Norte e da Europa receberam ainda mais partículas de plástico, porque nessas regiões os biberões de plástico são mais utilizados.
Os investigadores escolheram 10 biberões de plástico diferentes, que representam quase 70 por cento do mercado mundial, e mediram a quantidade de microplásticos libertados quando estes eram usados para preparar leite artificial de acordo com as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo essas orientações, o leite artificial em pó deve ser misturado com água aquecida a pelo menos 70 graus Celsius para reduzir a carga bacteriana.
Descobriu-se que a libertação de microplásticos é extremamente sensível à temperatura, afirmou Boland. “Há uma interação entre o polímero plástico e a água”, explicou Boland. “É quase como se a superfície do próprio plástico estivesse a descamar.” A água mais quente intensifica esta descamação, assim como o ato de agitar o biberão.
Quando os investigadores encheram biberões de plástico com água à temperatura ambiente e os agitaram durante cerca de 60 segundos, para simular a preparação habitual de leite artificial, “são libertadas centenas de milhares de microplásticos”, afirmou. Quando a temperatura foi aumentada para 70 graus Celsius, os biberões libertaram entre 1 e 16 milhões de partículas por litro. Os biberões também libertaram biliões de nanoplásticos ainda mais pequenos — fragmentos de plástico com tamanhos entre 10 nanómetros e 1 micrómetro — em quantidade tal que “deixámos de os contar”, acrescentou.
Os biberões de plástico libertaram continuamente partículas de microplástico ao longo dos 21 dias de testes.
Em seguida, os investigadores utilizaram dados globais de vendas de biberões de plástico e dados nacionais sobre taxas de amamentação para estimar quantos bebés poderão estar expostos a microplásticos em todo o mundo durante os primeiros 12 meses de vida. No total, estimaram que o bebé médio ingere mais de 1,5 milhões de partículas de microplástico por dia.
No entanto, estas estimativas variaram significativamente entre diferentes regiões do mundo. Os investigadores estimaram que bebés em países de maior rendimento, como na América do Norte e na Europa, onde as taxas de amamentação são mais baixas, podem potencialmente ingerir mais de 2 milhões de partículas de microplástico por dia. Ao mesmo tempo, na China, onde os biberões de vidro são mais populares, a ingestão média de microplásticos por bebés é estimada em “dezenas de milhares” de partículas, afirmou Boland.
A grande questão é se — ou de que forma — isto pode afetar a saúde do bebé.
Com base no que se sabe sobre os efeitos na saúde de animais como ratos e peixes, incluindo distúrbios digestivos e danos cerebrais, Wang afirmou que as descobertas sugerem que “devemos agir para reduzir as emissões de microplásticos”.
De acordo com a National Oceanic and Atmospheric Administration, os microplásticos são pequenos fragmentos de plástico, geralmente menores do que sementes de sésamo. Podem ser prejudiciais para organismos marinhos e aquáticos e já foram encontrados nas fezes humanas, nos testículos humanos, no sangue humano e até na placenta.
De acordo com a indústria do plástico, relatar partículas tão pequenas pode parecer alarmante, mas detetar algo não significa necessariamente que constitua um risco para a saúde…
No entanto, os pediatras afirmam que os pais têm motivos legítimos para se preocuparem com os resultados da investigação.
“A ciência está apenas a começar a arranhar a superfície destas preocupações. Mas quando se vê microplástico, sabe-se que o plástico se está a decompor, e a preocupação mais profunda é, na verdade, uma preocupação menos visível”, afirma o Dr. Leonardo Trasande, professor de pediatria na NYU Grossman School of Medicine e diretor do Centro de Investigação de Riscos Ambientais da NYU Langone, em Nova Iorque.
Os químicos que migram do plástico para os alimentos e que causam especial preocupação são os ftalatos, que podem perturbar o metabolismo e reduzir os níveis da hormona sexual masculina testosterona, bem como os bisfenóis, como o BPA, que é essencialmente um estrogénio sintético capaz de aumentar o número de células adiposas, afirmou Trasande, que foi o principal autor da declaração da American Academy of Pediatrics sobre aditivos alimentares e saúde infantil.
“Na minha opinião, os pais deveriam preocupar-se com isto”, acrescentou a Dra. Claire McCarthy, pediatra do Boston Children’s Hospital e professora assistente de pediatria na Harvard Medical School.
“O problema é que não sabemos até que ponto devemos preocupar-nos… Não sabemos exatamente quanta exposição causa danos ou quais fatores podem aumentar ou reduzir esses danos. No entanto, é justo dizer que todos nós deveríamos usar menos plástico, especialmente na alimentação de bebés e crianças.”
Conselhos para os pais:
Os autores do novo estudo recomendaram que os biberões de plástico sejam agitados e aquecidos o mínimo possível, a fim de reduzir a quantidade de partículas plásticas ingeridas pelo bebé. Segundo Wang, as quatro principais medidas são:
- Enxaguar os biberões esterilizados com água fria e estéril para remover parte dos microplásticos libertados.
- Preparar sempre a fórmula infantil em recipientes sem plástico.
- Quando a fórmula estiver à temperatura ambiente, transferi-la para um biberão esterilizado e arrefecido.
- Evitar reaquecer a fórmula infantil preparada em recipientes de plástico, especialmente no micro-ondas, pois isso pode criar “bolhas” de líquido sobreaquecido.
No entanto, a solução mais simples é mudar para biberões 100% livres de plástico — os biberões feitos de aço inoxidável e vidro são as melhores opções.
Fontes utilizadas no artigo:
- Nature Food "Libertação de microplásticos da degradação de biberões de polipropileno durante a preparação de fórmula infantil"
- Oxford Academic "Presença de microplásticos nos testículos de cães e humanos e sua potencial associação com a contagem de espermatozoides e pesos dos testículos e epidídimos"
- Science Direct "Descoberta e quantificação da poluição por partículas plásticas no sangue humano"
- Science Direct "Tendências temporais na acumulação de microplásticos em placentas de gravidezes no Havai"